O RISCO DE PENSAR QUE NÃO HÁ RISCOS

Em sã consciência você pegaria o seu carro novo, esportivo, e que custou algumas dezenas de milhares de reais e dirigiria ele em alta velocidade a noite, na chuva, com os faróis desligados, em uma estrada sinuosa, sem iluminação nenhuma, em alto declive, e totalmente desconhecida por você? Não é difícil pensar que a resposta para quase todos que pensarem um pouquinho nesta situação é não, não é?!

Geralmente os projetos, principalmente os ligados a área de tecnologia da informação como desenvolvimento de sistemas, são parecidos com esta estrada desconhecida e sinuosa, e as situações e desafios são dos mais diversos como noite, chuva, descidas ingrímes e curvas repentinas, além é claro de custarem muito dinheiro.

Se você não conseguiu fazer uma simples analogia pense que por mais que o projeto é parecido com um que você já gerenciou, o cliente será diferente, o ambiente do cliente também, as necessidades provavelmente também serão diferentes dos outros que você já viu, então estas são só algumas das variáveis que formam o desconhecido.

Como gerente de projetos precisamos olhar para os nossos projetos e gerenciá-los de uma forma que o desconhecido se torne conhecido, ou pelo menos mais provável, ou em último caso que apenas raras exceções sejam desconhecidas.

Á área específica que cuida disso é o gerenciamento de riscos.

Mas porque gerenciar riscos?

Bom, quando dirigimos nas condições mencionadas no primeiro parágrafo e não consideramos nenhum risco envolvido, as chances de algo acontecer é muito grande, como perder o controle em uma curva, encontrar um cruzamento sem tempo para frear, cair em um grande buraco, encontrar uma grande lombada, bater em um carro parado … entre dezenas de outras situações possíveis. Temos que concordar que os riscos são muitos, além de variados e com alta probabilidade de incidência.

Nesta situação, se pensarmos nos riscos envolvidos com o nosso carro esportivo caro e com a nossa vida, ligaremos os faróis altos, iremos em baixa velocidade para ter tempo hábil para qualquer frenagem e parada total a qualquer sinal de perigo, e principalmente a uma velocidade controlada que seja possível reagir de forma segura a todas as curvas que aparecerem ou obstáculos inesperados.

Involuntariamente foi realizado um gerenciamento de riscos nesta situação, e é o que todos nós fazemos no nosso dia-a-dia. O interessante é que conceitualmente fizemos uma análise completa dos riscos inconscientemente.

Alguns riscos foram eliminados, ou seja, não existem mais como por exemplo não conseguir fazer uma curva. Outros foram mitigados, ou seja, a chance de ocorrerem foi diminuída, como por exemplo estando em baixa velocidade será possível frear sem bater em algo que apareça de surpresa.

Por fim, alguns riscos foram aceitos podendo ocorrer ainda, porém mesmo assim o motorista estará mais preparado e os impactos com certeza serão menores. Por exemplo, na situação hipotética é noite, está escuro e chuvoso, e nestas condições é difícil ver nitidante buracos no asfalto mesmo com faróis potentes, principalmente porque eles ficam cheios de água, então mesmo em baixa velocidade o carro poderá cair em um buraco, mas é certo que os estragos serão bem menores do que se a velocidade fosse alta.

Como pode ser visto é natural para nós visualizarmos riscos em diversas siuações e nem percebemos que o fazemos, mas é muito importante para sairmos vivos, ilesos ou vitoriosos em várias circunstâncias.

Nos projetos, o benefício do gerenciamento de riscos é o mesmo. Alguns ainda insistem em dizer que o gerenciamento de riscos é moda e não sabem para que isso serve. Quando ouvir isso novamente pense no exemplo do carro e da estrada sinuosa, será que esta mesma pessoa diria que os riscos são só modismo e negligenciaria tudo e se submeteria as situações do início deste post? Arrisco dizer que não, então porque nos projetos alguns indivíduos ainda teimam em não gerenciar os riscos?

É altamente arriscado não se gerenciar riscos em projetos, e parece brincadeira de palavras mas há riscos em não gerenciar os riscos. Pode parecer apenas uma provocação estas frases, mas ela são verdadeiras, pois quando se deixa de lado o gerenciamento dos riscos é como se o projeto fosse colocado no lugar do carro em alta velocidade naquela estrada sinuosa, escura e desconhecida. No caso do carro você pode morrer, e no caso de projetos você pode perder o emprego ou um grande bônus no final do ano.

Lembre-se: Quando se tem diversas variáveis e situações desconhecidas e imprevistas no projeto, a resposta a ocorrência destas situações é difícil, e mesmo que seja possível escapar vivo os impactos provavelmente serão grandes.

Então o recado que eu deixo aqui é: Sempre gerencie os riscos do seu projeto. Identifique-os, pontue-os e analise as respostas para cada um deles. Tenha certeza que o impacto será bem menor no seu projeto caso algum ocorra.

Se ainda duvidar, lembre-se do Porche a 150km/h em uma descida cheia de curvas, e inesperadamente a menos de 50 metros do carro que é o alcance da sua visão, aparece um alce no meio da pista. A batida será inevitável, você poderá sair vivo, mas e os estragos no seu carro? Agora pense na mesma situação, só que você dirigindo a apenas 40km/h.

O gerenciamento de riscos é simples e natural, não precisamos tratá-lo como tarefas onerosas, burocráticas ou chatas. Pense na sua sobrevivência e na da sua equipe, além da economica de dinheiro em seu projeto.